Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que cerca de 17,5 milhões de pessoas morrem no mundo todos os anos devido a doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e derrames. Este número poderá subir para mais de 23,6 milhões até 2030. No Brasil, um a cada três óbitos decorre de doenças cardíacas ou de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o número de mortes anual chega a 300 mil por estes tipos de enfermidades.
Bruno Marques, chefe de cirurgia cardíaca do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) e cirurgião cardiovascular do Hospital CopaStar afirma que, embora fatores não modificáveis, como a genética, contribuam para a ocorrência desses agravos cardiovasculares, os números são maiores principalmente devido aos maus hábitos de vida da população. Uma alimentação não balanceada, sobrepeso e hipertensão são fatores que podem aumentar consideravelmente o risco de o indivíduo adquirir um problema cardíaco. Além disso, o médico lembra que, com o aumento do número de idosos e da expectativa de vida da população brasileira, a incidência dessas doenças cardiovasculares no país também cresce. O cardiologista informa que a doença cuja ocorrência mais vem aumentando atualmente é a aterosclerose, que leva à obstrução progressiva das artérias, causando infarto e AVC.
"É necessário que haja um acompanhamento com cardiologistas desde a adolescência para se controlar os fatores de riscos modificáveis e que as consultas sejam mais frequentes após os 40 anos, quando o número de ocorrências dessas doenças tende a aumentar", explica o médico.
Marques acredita que, um grande avanço na cardiologia hoje, além de medicamentos para se evitar a aterosclerose, controlar a pressão e a diabetes, sejam as cirurgias menos invasivas, como os procedimentos por vídeo e por cateter. Segundo o cirurgião, nas intervenções por vídeo, por exemplo, é possível realizar uma pequena incisão para tratar as válvulas cardíacas ou realizar revascularização do miocárdio. Esses procedimentos, além de menos invasivos, têm recuperação bem mais rápida. Porém, apesar das novidades tecnológicas, o médico acredita que o principal avanço capaz de reduzir drasticamente os números de morte atuais será a disseminação de informações em larga escala sobre as causas e as melhores formas de prevenção das doenças cardiovasculares para a população brasileira.
O professor do departamento de nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Maurício Leite, Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da FIOCRUZ, afirma que o alto consumo de alimentos com cloreto de sódio, gorduras saturadas, o baixo consumo de vegetais, vitaminas e minerais são fatores que vêm comprometendo a saúde do coração brasileiro. Leite afirma que, individualmente, uma alimentação saudável associada à atividade física são fatores determinantes para a prevenção de doenças cardiovasculares. O nutricionista, no entanto, ressalta que é preciso enxergar além dos hábitos individuais. "Hoje no Brasil temos um cenário onde metade da população brasileira está acima do peso, mas a realidade é que apenas 5 % das pessoas que fazem dieta conseguem emagrecer a médio e longo prazo".
O profissional enfatiza ser preciso que se discuta o contexto e se interprete as causas desses problemas. E lembra o processo de urbanização brasileira, com o qual o trabalho deixou de ser braçal e passou a ter uma maior carga horária, o que transformou a atividade física em sinônimo de lazer. Como o tempo de lazer é cada vez mais escasso e a alimentação mais saudável pode ser cara para grande parte dos brasileiros, o problema tornou-se estrutural. Ou seja, a renda acaba influenciando nos hábitos individuais. Somado a estes fatos, Leite acrescenta que houve uma crescente industrialização de alimentos, que estão cada dia mais processados, com menos fibras, vitaminas e minerais e com muitos açúcares. Por isso, o nutricionista acredita que
"É preciso pensar em políticas públicas de saúde de alimentação e nutrição, que foquem na educação e ampliem o acesso a uma alimentação mais saudável, com preços acessíveis e que os alimentos sejam adquiridos perto de casa", conclui o nutricionista.
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