Mais de 70% das 28 milhões de mortes por doenças crônicas não transmissíveis – como doenças vasculares, cânceres em geral, doenças pulmonares, demências – e 82% dos 16 milhões de mortes prematuras por essas doenças ocorrem em países com populações de renda média e baixa. Estas informações estão presentes no relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2015.
De acordo com o médico e professor Associado de Neurologia da UFRJ Charles André, essa disparidade entre o número de mortes nos países ocorre por inúmeras razões: maior crescimento e envelhecimento da população nos países menos desenvolvidos, dificuldade no controle dos fatores de risco clássicos, mudança progressiva de hábitos de vida – sedentarismo, dietas ricas em gorduras, pior atendimento médico hospitalar, além de fatores novos, como poluentes ambientais e desnutrição precoce, que também afetam de modo assimétrico estes países.
O relatório assinala, ainda, que a maioria das mortes prematuras por doenças crônicas não transmissíveis são evitáveis e apresentam fatores de risco comuns, como obesidade, hipertensão, diabetes, tabagismo e consumo de álcool. Por isso, o número de mortes por doenças crônicas não transmissíveis pode ser significativamente reduzido mediante políticas governamentais orientadas para agir sobre esses fatores de risco e proporcionar uma maior cobertura em saúde.
Plano 25-25
Após a divulgação do relatório, diversos países estabeleceram novas medidas para alcançar as metas mundiais que visam à redução da carga das doenças crônicas não transmissíveis e à prevenção das mortes. O Brasil, por exemplo, firmou com a OMS o compromisso chamado “Plano 25-25”, para reduzir em 25% a mortalidade até 2025.
Para atingir tal objetivo no País, o médico Charles André afirma ser preciso melhorar a circulação de informações pertinentes, instituir políticas públicas para reduzir fatores óbvios e alocar recursos de modo racional. Exemplos de medida de controle são: impostos crescentes sobre alimentos ricos em gorduras ou sal e alocação dos recursos advindos das regulações sobre bebidas alcoólicas ou produtos derivados do tabaco para a própria área da saúde.
Também há iniciativas em curso que estimulam a educação da sociedade civil para combater essas doenças, como programas de estímulo à manutenção das crianças na escola, combate à obesidade infantil, programas de avaliação de fatores prevalecentes e estímulo à mudança comportamental em pequenas cidades, disponibilização de aplicativos para auto avaliação de riscos, dicas práticas para mudanças comportamentais, financiamento a pesquisa, entre outras.
Estratégias de Prevenção
Como estratégias de prevenção, Dr. Charles afirma que há dois tipos básicos de abordagem. O primeiro consiste em identificar os indivíduos de alto risco, como hipertensos, obesos e tabagistas,por exemplo, e tentar controlar e/ou eliminar estes fatores. O problema, segundo o médico, é que a população não participa em nada nesta abordagem, e “espera” chegar a este ponto para tentar tratamento, evidentemente mais caro. Além disso, muitos casos destas doenças ocorrem na faixa “normal”, de pessoas de risco relativamente baixo.
A segunda abordagem é mais populacional, em que cada indivíduo tenta avaliar seu próprio risco. Hoje, existem recursos fáceis para avaliar estes riscos, inclusive através de aplicativos. Mesmo que baixo, o risco sempre pode ser reduzido.
“Uma pessoa de 35 anos que tem leve distúrbio do colesterol e faz atividade física três vezes por semana, por exemplo, se mudar seus hábitos dietéticos e aumentar para cinco vezes na semana as atividades físicas, pode ter este risco ainda mais diminuído", afirma Dr. Charles André, que acredita que isso, multiplicado por milhões de pessoas, pode ter impacto maior sobre a incidência e mortalidade relacionadas a estas doenças.
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