Na última quinta-feira (29) foi celebrado o Dia Mundial do AVC, que é a segunda maior causa de morte no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A data chama atenção para uma relação importante e atual: o maior risco de pacientes infectados com COVID-19 sofrerem um AVC isquêmico agudo.
A conclusão é de um estudo publicado em julho deste ano pela revista médica americana Jama Neurology. Os pesquisadores avaliaram 1.916 pacientes de dois grandes hospitais de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Aproximadamente 1,6% dos adultos com COVID-19 que passaram pela emergência ou foram hospitalizados sofreram AVC isquêmico. A taxa da ocorrência foi maior do que pacientes com gripe. Sendo a idade média de 69 anos e a maior parte dos pacientes (58%) eram do sexo masculino.
“Médicos e profissionais que cuidam de pacientes com infecção por COVID-19 devem permanecer vigilantes quanto a sinais e sintomas de acidente vascular cerebral, porque o diagnóstico imediato pode permitir tratamento eficaz do AVC”, afirmou o pesquisador, Dr. Neal Parikh, professor assistente de Neurologia e Neurociência da Weill Cornell Medicine, em Nova York.
O estudo reforça que a “elucidação adicional dos mecanismos trombóticos em pacientes com COVID-19 pode render melhores estratégias para prevenir complicações trombóticas incapacitantes, como acidente vascular cerebral isquêmico”.
A relação entre o coronavírus e o AVC
Ainda de acordo com o estudo, a infecção pelo coronavírus está associada a uma resposta inflamatória vigorosa, acompanhada de coagulopatia, com níveis elevados de dímero-D e presença frequente de anticorpos antifosfolípides. Esse contexto pode explicar a alta prevalência de tromboses nos pacientes.
A pesquisa ratifica o risco elevado de complicações médicas em pacientes com COVID-19 e destaca arritmias atriais, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, miocardite e tromboses venosas, como prováveis contribuintes para o risco de isquemia derrame.
O Dr. Pedro Kurtz, coordenador da Neuro UTI do Hospital Copa Star, relata que “mesmo pouco prevalente, as complicações neurológicas observadas em pacientes com COVID-19 são bastante graves” e as correlaciona com a ausência do especialista na UTI COVID. Essas situações “chamam atenção para o potencial uso do telemonitoramento na identificação de complicações”.
Terapia para o AVC no Brasil
Os números em relação ao controle epidemiológico da doença no Brasil são de difícil acesso. Porém, estima-se, segundo o Ministério da Saúde, em 2016 foram registradas 188.223 internações para o tratamento de AVC isquêmico e hemorrágico e 40.019 óbitos.
Atualmente, houve um aumento de 31% no número de mortes por doenças cardiovasculares em meio à pandemia de Covid-19. Os dados são do Portal da Transparência do Registro Civil e a sociedade brasileira de cardiologia.
O neurologista e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, Dr. Daniel Paes dos Santos destaca que a “grande parcela da população brasileira não tem acesso a serviços básicos de prevenção, tratamento ou reabilitação no AVC, gerando graves sequelas e impactos funcionais, sociais e emocionais, principalmente na população mais carente”.
Mas ele segue esperançoso de que a vigilância e mobilização para o enfrentamento a pandemia possa destacar a importância do combate a esta grave doença e a desigualdade no seu tratamento. “É de extrema importância que o SUS e as redes complementares se mobilizem para o acesso adequado ao tratamento, redução das desigualdades e oferta de serviços que possam trazer suporte adequados aos pacientes”.
Telemonitorização
Para o Dr. Daniel Paes, “dados [da monitorização] sugerem que os pacientes admitidos nas unidades especializadas apresentam melhor desfecho funcional na alta, menor tempo de internação hospitalar, menor custo, entre outros”.
Como um dos convidados do webinar “TeleAVC e Telemedicina na Neuro UTI: desafio e perspectivas durante e após a pandemia”, Paes comentou ser imprescindível o papel do time multidisciplinar e a associação interativa do profissional na avaliação não apenas qualitativa, mas também na atuação preventiva, agilidade nas tomadas de decisões e na reabilitação multiprofissional.
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