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Aposentadoria de atletas jovens mostra a importância da saúde mental no esporte.

“Não dá para a gente entender um atleta como uma máquina, uma máquina física de produzir resultados”, diz especialista em psicologia do esporte



O jogador de vôlei Douglas Souza, que ficou conhecido na Olimpíada de Tóquio 2020 pelo seu carisma em frente às câmeras e nas redes sociais, anunciou na última semana a aposentadoria da Seleção Brasileira para poder cuidar da saúde mental. Ele utilizou as suas redes sociais para fazer o anúncio, relatou que sofre de depressão e ressaltou a importância de dar visibilidade à doença.


“Eu sentia que precisava quebrar barreiras e eu consegui fazer isso muito bem. Só que chegou um ponto, em 2016, que minha mente e meu corpo começaram a dar alguns sinais de que eu precisava dar uma diminuída no ritmo”, disse Douglas. “Em pleno 2022, a nossa saúde mental é uma coisa extremamente importante, a coisa que tem que se cuidar, se tratar, dar uma atenção ali. Mas, infelizmente, estando na seleção era muito difícil ter esse tempo”, declarou o atleta.


Douglas não é o único a sofrer com o problema. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) diagnosticados com ansiedade. É também o segundo maior das Américas em índices de depressão, doença que atinge 5,8% da população, segundo o mesmo estudo.


A decisão de Douglas também não é inédita. No ano passado, no auge de sua carreira, a ginasta norte-americana Simone Biles desistiu de competir nas Olimpíadas de Tóquio, no meio da competição. E pelo mesmo motivo: cuidar de sua saúde mental.


O professor João Ricardo Cozac, pós-doutor em psicologia do esporte e presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte (APPEE), afirma que atletas como Douglas e Simone, que competem em alto rendimento, acabam se afastando da carreira esportiva por conta da pressão psicológica em relação a resultados e performance em competições. “As pressões não são só externas, mas também de dirigentes, patrocinadores e da própria equipe. Essa cobrança, aliada às dificuldades internas e emocionais desses atletas, acaba inviabilizando a sua evolução e sua permanência nas competições, sobretudo nas de alta performance.


Ele alerta que ainda existe uma defasagem muito grande na formação de técnicos e profissionais de educação física que não têm acesso a informações fundamentais de psicologia no esporte. “É preciso que as faculdades que formam os técnicos comecem a falar mais de psicologia do esporte e buscar informações científicas relevantes ao cotidiano dos profissionais”, ressalta Cozac


Para o especialista, as decisões de Douglas Souza, Simone Biles e outros atletas demonstram como a formação e a atuação de profissionais do esporte, principalmente de alta performance, precisa mudar.


“É uma mensagem que está sendo passada para todos e as equipes, instituições esportivas e confederações precisam mostrar mais interesse e preocupação em relação à saúde mental desses atletas e, assim, oferecer os benefícios, cuidados e tratamentos que lhes são devidos”, finaliza Cozac.




Por Carolina Medeiros




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