21 de setembro é o Dia Mundial e Nacional de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer, forma mais comum de demência, condição que afeta 35,6 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, são 1,4 milhão de pessoas, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).
A idade avançada é o principal fator de risco e não há ainda uma cura. O tratamento atual é baseado na atuação sobre os sintomas da doença, que incluem perda de memória, desorientação, ansiedade e comportamento agressivo. Dentre fatores que podem ser desencadeadores da doença estão a depressão, ansiedade e doenças cardiovasculares.
No campo das pesquisas, a aprovação da droga Aducanumab – anticorpo monoclonal que atua sobre o acúmulo de proteína beta-amiloide no cérebro – pela FDA (Food and Drug Administration), causa divergência de opiniões da classe.
O anticorpo foi submetido a dois estudos clínicos, fase 3, prospectivos e controlados, e foi interrompido pela ineficácia. No entanto, de acordo com o fabricante do medicamento, uma análise mais específica das informações de um dos trabalhos encontrou resultados positivos.
Por outro lado, os neurologistas questionam o baixo número de resultados efetivos e acreditam que é necessário que o trabalho seja replicado.
Para debater o assunto e explicar melhor o que é a doença, convidamos o Dr. Daniel Paes, médico neurologista, membro titular da Associação Brasileira de Neurologia.
Entrevista com Dr. Daniel Paes Santos, 1ª parte:
Health Connections (HC) - Qual é a peculiaridade da doença de Alzheimer (DA) em relação às outras demências?
Dr. Daniel Paes (DP) - A doença de Alzheimer é a forma mais comum de síndrome demencial neurodegenerativa no mundo. Acomete 1% dos idosos após os 65 anos até os 80, 6% na década seguinte e, acima de 90, pode atingir mais de 60 % dos idosos. Como é parecido com outros tipos de demência, o diagnóstico de absoluta certeza requer a análise do tecido cerebral.
HC - Quais as características do cérebro de um portador de Alzheimer?
DP - Os portadores de DA, durante o processo fisiopatalógico neurogenerativo, apresentam alterações bem peculiares relacionadas a atrofias corticais que podem ser focais ou generalizadas em relação ao cérebro, o que podemos observar bem em exames de imagem mais modernos. O hipocampo e as regiões próximas apresentam tamanho reduzido e essa atrofia é diretamente relacionada à gravidade dos sintomas.
HC - A deposição das placas da proteína beta-amilóide, constatadas em pessoas que têm Alzheimer, influenciam na neurodegeneração do cérebro?
DP - Com certeza, é o principal influenciador e o processo desencadeante inicial para evolução do tecido cerebral que acomete a doença de Alzheimer. O depósito das proteínas beta-amilóides formam compostos neurofibrilares que levam à disfunção neuronal e, por consequência, à disfunção da função cortical e da atividade do cérebro relacionada àquela esfera da cognição afetada.
HC - É possível diagnosticar a doença através de exames de imagem, antes mesmo de se manifestarem os sintomas?
DP - Ainda não é possível o uso de métodos específicos para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer. Muito vem se avançando no que se refere à pesquisa, não só de exames de imagem mas também de biomarcadores que podem ser dosados no sangue ou no líquor para tentar desvendar um diagnóstico anterior à doença.
HC- Como prevenir a DA?
DP- A doença de Alzheimer guarda uma forma muito estreita na sua prevenção, com as estratégias de prevenção para as doenças cardiovasculares de maneira geral. Então, a prática de exercícios físicos, o bom condicionamento físico, boa alimentação, assim como estratégias de estímulo cognitivo, leitura e uma boa dose de controle cognitivo sobre as emoções, evitando a depressão e a ansiedade, por exemplo, reduzem de maneira significativa a chance de desenvolvimento da doença.
HC - Qual é, hoje, o melhor tratamento possível para a doença?
DP – Hoje, o melhor tratamento possível se subdivide em dois pilares clássicos: o tratamento farmacológico e o tratamento não farmacológico. O primeiro é baseado em medicações que aumentam a oferta de acetilcolina e tenta reduzir o fenômeno de apoptose ou morte neuronal relacionada a estímulos prejudiciais sinápticos. Já o tratamento não farmacológico tem como estratégia o reconhecimento de déficits cognitivos e reabilitação dos mesmos, associada a boas práticas de prevenção secundária de lesões cerebrais.
HC – Quais são as melhores formas de reabilitação da doença?
DP - A reabilitação da doença é subdividida em esforços direcionados à melhora da qualidade de vida, como condicionamento físico, reabilitação motora e neurológica, trazendo ganhos funcionais e melhorando a independência do paciente para as atividades diárias, como a reabilitação cognitiva, que funciona como estratégia de proteção cerebral.
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